domingo, 30 de janeiro de 2011

REVELAÇÕES DO WIKILEAKS SOBRE O DRAMA DA VARIG (3)

Neste terceiro e final breve capítulo do acompanhamento diplomático que os embaixadores dos Estados Unidos dedicaram ao drama da Varig, merece ser incluída a atitude incoerente do governo brasileiro, ao aceitar e depois não cumprir o compromisso de pagar US$ 1 bilhão à empresa aérea , após ter forçado o afastamento da Fundação Rubem Berta da sua direção.O recuo do governo surpreendeu o embaixador John Danilovich, que  em seus comentários confidenciais não encontrava hipóteses para explicar esse desinteresse para o destino de uma empresa aérea que havia chegado a ser a maior e mais admirada da América Latina. Da mesma maneira ,os diplomatas estranharam que o BNDES oferecesse apenas 103 milhões de dólares para ficar com a VarigLog,a VEM e o programa de milhagem Smiles, depois que havia sido recusada a proposta da americana Matlin Patterson que queria adquirir a VarigLog por US$ 130 milhões.
Outra situação "sui generis", difícil de explicar, foi considerada pelo embaixador Danilovich a maneira como o vice-presidente da República, José Alencar, que havia sido designado como representante do governo para tratar do "caso" Varig, mudava suas sugestões de um dia para outro. Um dia ele definiu "um horror" a situação financeira da empresa, outro sugeria que a Varig encontrasse no mercado a maneira como resolver seus problemas, e ao mesmo tempo recomendava à Petrobras e à Infraero paciência na cobrança de seus créditos com a aérea,relacionados com o fornecimento de combustível e com a assistência nos aeroportos. Na iminência de novas eleições, o governo fez tudo para nada decidir em relação ao destino da Varig, mas ao mesmo tempo utilizou seu prestígio para evitar que as empresas de leasing e a própria Boeing ficassem com as aeronaves da empresa .
Um ponto positivo, que depois não se realizou, foi considerado pelo novo embaixador americano Clifford Sobel a intenção da FAA (Federal Aviation Agency) de ajudar o governo brasileiro a resolver os problemas que já na época pipocavam nos aeroporto brasileiros,instalando uma sua representação no país. É provável que no apoio de Sobel à proposta estivesse implícito a consideração de que esse entendimento abriria aos EUA a possibilidade de orientar o país na direção de esquemas de controle do tráfego aéreo que mais interessavam aos americanos.
Concluindo, pode-se afirmar que os documentos divulgados por Julian Assange confirmaram a convicção da maioria dos analistas brasileiros deu que o governo do país deu mais importância às novas eleições que estava para enfrentar do que ao destino da Varig ; que não soube valorizar a imagem que a empresa havia conquistado em mais de 70 anos de atividades; que se deixou levar por considerações políticas, esquecendo os mais de 20 mil trabalhadores da aérea que ficariam desempregados.Sem contar que ainda não cumpriu a sua obrigação moral com os aposentados da empresa, aos quais tanto o ex-presidente como a atual prometeram, em várias ocasiões, que tomariam as providências necessárias para que voltassem a receber os pagamentos perdidos ,por omissões dos supervisores da Previdência que representavam o governo.

Um comentário:

  1. As revelações dos documentos de Assange apenas confirmam quanto já se sabia sobre as omissões do governo em relação à Varig. Mas foram um ato de coragem, que fez do WikiLeaks e de seu diretor algo memorável na história da imprensa mundial

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